vila ajuri . amazonas

habitação social na amazônia


“A modernização jogou essa gente do campo e da floresta para viver em favelas e em periferias, para virar mão de obra em centros urbanos. Essas pessoas foram arrancadas de seus coletivos, de seus lugares de origem, e jogadas nesse liquidificador chamado humanidade. Se as pessoas não tiverem vínculos profundos com sua memória ancestral, com as referências que dão sustentação a uma identidade, vão ficar loucas neste mundo maluco que compartilhamos.”

Ailton Krenak. Ideias para adiar o fim do mundo, 2020.


“A cultura, forma de comunicação do indivíduo e do grupo com o universo, é uma herança, mas também um reaprendizado das relações profundas entre o homem e o seu meio, um resultado obtido por intermédio do próprio processo de viver.” 

(…) “A cultura popular tem suas raízes na terra em que se vive, simboliza o homem e seu entorno, a vontade de enfrentar o futuro sem romper a continuidade”

Milton Santos. O espaço do cidadão, 1987.


Projeto

Trata-se de projeto a ser implantado por meio do sistema de autogestão, no contexto do Programa Minha Casa Minha Vida – MCMV-Entidades, na área de expansão urbana do município de Novo Airão, no Amazonas.

O projeto prevê o atendimento de 200 famílias indígenas em contexto urbano, em quatro vilas compostas por 50 unidades de habitação unifamiliar, além de infraestrutura urbana e equipamentos comunitários.

Arquitetura Popular Ribeirinha

A proposta tem como referência a arquitetura popular ribeirinha da Amazônia, a partir de estudos e registros realizados na região, em especial nas comunidades de pescadores das vilas Pesqueiro e Céu, no Marajó.

Diretrizes

O projeto da Vila Ajuri segue as diretrizes do MCMV-Entidades, em especial no que se refere aos seguintes pontos:

(a) apoio à participação da população como protagonista na solução de seus problemas habitacionais;

(b) estímulo à produção habitacional por autogestão;

(c) estímulo ao cumprimento da função social da propriedade;

(d) produção de unidade habitacional dotada de solução adequada de abastecimento de água, esgotamento sanitário e energia elétrica, respeitadas as características e condições locais;
(e) priorização de soluções arquitetônicas que valorizam as características regionais, ambientais, climáticas e respeitam especificidades culturais, modos de vida, estrutura familiar e forma de ocupação do território, em particular – neste caso – a cultura dos povos indígenas amazônicos.

Localização e Contexto

A Vila Ajuri será implantada em terreno a ser adquirido pelo Instituto Indígena Maku-Itá, situado na Rodovia Samuel Benchimol AM 352, Km 01, Quadra 01, Setor 16, no Município de Novo Airão, Amazonas. 

Trata-se de área localizada na Zona de Expansão Urbana Leste do município, com aproximadamente 261.875 m2. A área de expansão urbana em referência foi definida no Plano Diretor do Município, nos termos do Estatuto da Cidade. 

O terreno apresenta inclinação natural inferior a 5%, com presença dominante de vegetação nativa de médio e grande porte ao longo de toda a sua extensão.

Implantação e comunidade

O projeto proposto tem como premissa a adequação ao contexto local e a preservação ambiental. O objetivo é garantir o mínimo impacto ambiental e a preservação das espécies nativas, além da adequação à topografia natural

A presente proposta prevê a implantação de quatro conjuntos contíguos, cada um com 50 unidades habitacionais, com o total de 200 unidades habitacionais, em lotes de 7,5 x 21 metros.
A circulação no interior da vila será por meio de vias compartilhadas, com prioridade para pedestres e ciclistas, sempre em caminhos acessíveis, integrados aos espaços verdes.

Unidade Habitacional

Por se tratar de proposta de autogestão na região amazônica, e de maneira a incorporar os saberes da população indígena ao projeto, as casas terão estrutura de madeira e serão suspensas sobre palafitas. A solução adotada, além de reduzir o impacto ambiental da implantação,  minimiza os problemas de drenagem, reduz os custos de impermeabilização e os problemas de umidade. As coberturas em duas águas, com amplos beirais, além do conforto térmico, permitem o livre escoamento das águas para o solo natural.
As unidades habitacionais atendem o programa de necessidades mínimo estabelecido nas normas do MCMV-Entidades. O projeto será composto por tipologias variadas, com unidades térreas e em dois pavimentos, com área de aproximadamente 56 m2. Cada unidade será composta por sala, 01 dormitório de casal, 01 dormitório para 02 pessoas, cozinha, área de serviço, banheiro e varanda.

Sistema construtivo: madeira, recurso sustentável

Seguindo as recomendações da Portaria MCID nº 725, de 15/06/2023, a madeira certificada será o material predominante dos sistemas e componentes das edificações, por se tratar de recurso renovável, de mínimo impacto ambiental e por estar associado às técnicas construtivas tradicionais dos povos indígenas da região, condição essencial para o processo de autogestão. 
A madeira é um recurso natural renovável e biodegradável, com uma matriz de baixo carbono. Enquanto outras matérias primas (como o aço e o concreto) estão baseados na exploração de jazidas que estão associadas à destruição das reservas naturais, no caso de madeira a extração pode ocorrer de maneira sustentável e garantir a preservação da floresta.

Toda a madeira a ser utilizada neste projeto deverá ser certificada, proveniente de manejo florestal sustentável, baseado em cadeia de custódia e sistemas de rastreamento de origem. O objetivo é garantir a preservação da floresta, em especial por se tratar de contexto amazônico. 
Em complemento à madeira, a fim de atender os requisitos de desempenho e conforto serão utilizados, onde necessário, componentes e sistemas em alvenarias de tijolo, placas cimentícias e concreto, entre outros sistemas certificados.


equipe técnica:

autores e responsáveis técnicos:

fabiano sobreira, lucas sousa, maria schulz e paulo ribeiro

início do projeto: setembro, 2023

parcerias:

instituto maku-itá

movimento nacional de luta pela moradia